Bicicleta surgiu no século 19 (Foto: BBC)
Que invenção pode ter sido mais revolucionária para o sexo do que a
pílula anticoncepcional, a camisinha ou o Viagra? Para um dos
geneticistas mais renomados da Grã-Bretanha, a resposta é clara: a
bicicleta.
Stephen Jones, professor do University College de Londres (UCL), uma
das mais respeitadas instituições de ensino e pesquisa do país, destaca
que a invenção da bicicleta foi o evento mais importante dos últimos 100
mil anos da história da evolução humana.
Para Jones, em entrevista ao programa da BBC Science Club, a bicicleta
"fez com que os homens não se limitassem mais a encontrar sua
companheira sexual na porta ao lado, mas, sim, transportar-se a aldeias
vizinhas e manter relações sexuais com uma mulher do povoado ao lado".
Transporte barato e eficiente
Embora a bicicleta tenha sido inventada no início do século 19, não foi
até pouco mais de um século atrás que se converteu em um fenômeno de
massa.
Os primeiros modelos tinham rodas pesadas e pouco confiáveis, mas dois
elementos transformaram a bicicleta em um dos milagres da tecnologia
moderna: a corrente e as rodas com raios.
A roda com raios feitos de cabos de metal finos e esticados permitiu acelerar o funcionamento da bicicleta.
Antes da criação da corrente dentada, as rodas eram acionadas por meio
de pedais acoplados, o que obrigava contar com uma roda frontal de
enorme tamanho, que acabava sendo incômoda e instável.
A corrente, além das marchas, permitiu que, com apenas uma volta do
pedal, a roda se movesse várias vezes e assim foi como nasceram, há um
século, as bicicletas "seguras para damas".
Dessa forma, essa maravilha da engenharia se converteu em um sistema de
transporte barato, eficiente, e acessível a homens e mulheres de todas
as classes sociais.
Mais 'paqueras' e menos piano
A imprensa da época na Grã-Bretanha reportou que a invenção mudou a forma de cortejo entre os jovens do final do século 19.
Nos jornais britânicos daqueles dias, é possível encontrar notícias de
que a bicicleta reduziu a frequência do comparecimento de pessoas à
igreja, criou novas tendências de cortejo entre os jovens e até mesmo
provocou uma diminuição no uso do piano.
Mas, além das transformações sociais, a ciência destaca que a
contribuição mais importante da bicicleta se refletiu nos nossos genes.
Stephen Stearns, professor de ecologia e biologia evolutiva da
Universidade de Yale, nos Estados Unidos, defende que a bicicleta
ampliou em 48 quilômetros a distância de 'paquera' dos homens ingleses
no final do século 19.
Ele diz que a invenção estimulou ainda a pavimentação das ruas, o que
facilitou, mais tarde, a incorporação do automóvel ao mundo do
transporte.
Para os especialistas, deu-se assim o início a um processo de migração que dura até hoje.
Diversidade genética
Jones, do University College de Londres, ressalta que a distância entre
o lugar de nascimento dos futuros cônjuges não parou de aumentar desde
então.
O cientista pede aos leitores que se façam uma pergunta simples: Quão
distante é a origem de seu marido/mulher em comparação com a dos seus
pais?
"Se caminharmos por uma cidade como Londres hoje em dia, vemos uma variedade genética que não teríamos visto em outra época".
A bicicleta, segundo Jones, deu início assim a um caminho rumo à
diversidade genética sem precedentes, algo que tem um papel primordial
no desenvolvimento do nosso sistema imunológico -- o que teve
repercussões futuras cruciais para a humanidade.
"A diversidade genética é a base da evolução, se não a tivéssemos, ainda seríamos muito parecidos com os primatas", concluiu.